Artigo: Negar a realidade em vendas gera zona de conforto

Escrito em 21/06/2019
William Caldas

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É muito bom lembrar dos perrengues que já passei na carreira de vendas. Certa ocasião eu era um vendedor de uma multinacional americana que tinha várias filiais no Brasil.

De uns 15 consultores de vendas, eu era o único que não tinha carro. Aqui eu abro um parêntese para contar uma parte da minha vida que me fez aprender muito. Eu nasci em Belo Horizonte, mas durante muitos anos morei em Contagem, que fica na grande BH.  

Pegava dois ônibus para ir pra o trabalho, dois pra voltar. E, se tinha uma coisa que eu naquele tempo jamais me preocupei em ter era um carro. Não era uma prioridade pra mim naquele momento.

Uma coisa que nós de vendas precisamos entender é que com o tempo, nossas crenças e hábitos podem nos impulsionar ou nos limitar. Guardem essa informação por que muitos vendedores nos dias de hoje podem estar cometendo o pecado que eu cometi naquela parte da minha estória em vendas.

Eu vendia relativamente bem, tinha um bom salário, recebia boas comissões, mas, vivia praticamente uma vida onde o que importava para mim era viver "o momento". Sabe aquele vendedor que adora dizer: "O futuro a Deus pertence", ou, "Deixa a vida me levar", pois bem, eu era assim. 

Me preocupava mais em ter um celular da moda, em comprar uma roupa que na minha cabeça era a da moda, poucas vezes eu investi do meu próprio bolso para fazer um curso, cobrava muito da empresa que me treinasse e as vezes afirmava que se a empresa queria um vendedor campeão, ela é que se virasse para treinar e formar esse campeão de vendas. Eu, naquele momento literalmente terceirizava a responsabilidade da evolução da minha carreira em vendas. 

Com o tempo, mudaram a gerência da filial de Belo Horizonte, o novo gerente com duas semanas de filial nova, me chamou para conversar e me disse: "William, estou prevendo que vão pedir que eu o demita". Quando ouvi aquilo meu chão sumiu.  Hoje, após muitos anos, eu consigo ter uma ideia do porquê meu chão sumiu aquele dia. 

O nome disso é Zona de Conforto!

Vendia bem? Vendia! Mas também, pelo fato de não trabalhar de carro eu sempre pleiteava as regiões mais próximas do nosso escritório.

Ganhava bem? Ganhava! Mas também, trabalhando próximo do escritório, eu não sabia o que era viajar, o ticket da minha carteira era de médio pra alto, eu não tinha vivenciado ainda o desafio de ter que vender para empresas de ticket menor e com isso depender do volume de vendas.

Quando perguntei a ele o motivo daquele "recado", ele me disse que de todos os vendedores eu era o único que não trabalhava de carro. Respondi a ele: "Mas eu cumpro as minhas metas". Ele me disse: "As metas vão subir daqui pra frente mais ainda. E imagina uma coisa William, pensa comigo... Se você trabalhando de ônibus cumpre suas metas, imagina de carro, visitando mais clientes, podendo explorar novas regiões, você vai voar nas vendas! Mas, antes que eles me perguntem o motivo de você ainda estar na empresa e sem carro, quero te dar esse alerta, para que você tome uma atitude e resolva isso."

O que hoje eu consigo entender que estava acontecendo comigo, naquele momento era quase impossível de entender as razões que o meu gerente me deu para eu "tomar uma atitude".

E sabe por quê?  Porque eu negava a minha realidade.

Quando negamos a realidade, sugerimos 'em comportamento' a nós mesmos que devemos ficar onde estamos, pelo conforto, pela "pseudo-garantia" das contas pagas, pela "pseudo-segurança" de que os clientes vão comprar meu produto ou serviço.

Pra resumir, eu levei quase 1 ano para tirar minha carteira de motorista, passei no quarto teste do Detran dado o nervosismo, imcompetência para dirigir rs e o medo de perder aquele que pra mim era o melhor emprego do mundo.

Foi por pouco! E graças a uma conversa franca e decisiva que meu gerente me proporcionou, deu tempo de repensar minha falta de atitude, repensar minha acomodação, deu tempo de ficar com vergonha da minha baixa taxa de ambição e de principalmente repensar minha falta de autoresponsabilidade.

Talvez nesse exato momento você que está lendo esse artigo, esteja precisando dar um basta nesse que é um hábito que cega muitos vendedores. Negar a realidade em vendas, pode ser o que está gerando a sua zona de conforto!

Vamo que vamo, a venda não pode parar!

William Caldas